Será líquido poder falar de um momento Blue Monday que a sociedade global estará a experimentar?
Certo é que nestes tempos o bem mais escasso será, porventura, a confiança. E a escassez de confiança, tanto no plano da economia global, como no plano sócio-político, tem contribuído, grosso modo, para a apatia civilizacional em que hoje nos perspectivamos.
O Homem, partindo de uma específica visão (porque cíclica) da História, traça, não raramente, uma panóplia de paralelismos. E, nesse sentido, o exercício de reflexão sobre as grandes crises do Século XX oferece-nos uma resposta concludente.
É que esta Crise, diferentemente das que marcaram a História até à primeira metade do século XX, é (também e fundamentalmente) de valores. Toda a produção cultural, jurídica, até, se quisermos, económica, desenvolvida pela Humanidade não soube prever nem impedir a sucessão calamitosa de acontecimentos conducentes ao momento presente.
Até aqui chegarmos, proclamou-se a morte da Filosofia, o horror às ideologias extremistas, findava o estado de graça da Lei. O Homem mostrava que, em toda a sua História, sempre esteve pronto para tudo, menos para a Pós-Modernidade.
Com o século XXI, chegava a cereja no topo deste amargo bolo. Partimos para a segunda década com um mundo em conflito. Podemos, quiçá, para além dos (inúmeros) conflitos armados que se foram disseminando um pouco por todo o planeta, falar de um grande conflito ideológico: o de assumir realmente que este é um momento de verdadeira Crise e que a actualidade é o culminar de um processo que começou no passado.
Por Crise entendemos aqui a falência de um paradigma vigente num determinado momento histórico-culturalmente localizado. É bem visível que é esse o momento que atravessamos. O melhor exemplo que temos é o da Política portuguesa: uma classe política desgastada, da esquerda à direita; uma confusão de partidarismo com clubismo, porque partidos e ideologias não são já realidades correspondentes. Pagamos a factura do super-individualismo que alimentámos laboriosamente por três séculos.
Porém, o Homem encontra na sua natureza, nos momentos de Crise, uma riqueza incomparável: é um tempo de novas oportunidades, da criação de novos paradigmas. Chegou a altura de pensar no sentido, no porquê, para além do como.
O que será, hoje e neste âmbito, remar contra a maré? O que pode cada um de nós fazer, nestes tempos em que a individualidade que conservamos continua esmagada por uma hierarquização político-instrumental na qual não nos revemos, para reverter esta situação? Um exemplo: no passado dia 23 de Janeiro, metade do País preferiu nem saber do rumo que Portugal tomará. Porquê?
Nestes tempos, em que se fala abertamente da decadência da Democracia, qual o rumo a tomar?
Acredito fervorosamente na Democracia, na Liberdade e na Responsabilidade. E acredito que é da conjugação saudável destes (e de outros elementos) que poderá surgir uma resposta.
Acredito na audácia de acreditar na Mudança.