sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Magno - que pela importância se sobrepõe a tudo que lhe é congénere; de grande relevância

Diz que a participação nas Assembleias Magnas tem vindo a ser progressivamente mais significativa. Folgo em sabê-lo. Também eu em tempos recentes tenho vindo a adquirir um interesse maior, sem deixar de confessar uma limitação – é-me humanamente impossível participar de início ao fim.

Não só pela longevidade, mas por quanto esta é agravada por muito dos conteúdos expostos. “Lavagem de roupa suja” foi o conceito que me surgiu de imediato aquando da minha primeira presença numa Magna. Pior cenário ainda quando esta se realiza em época de campanha eleitoral, acentuando-se as divisões, quais bancadas parlamentares. Sabemos de antemão que quem vai falar, mesmo antes de proferir uma só palavra, vai ser aplaudido por uma parte da sala e vaiado pela outra.

Não pretendo dissertar sobre o paradigma vigente das Magnas. Quero, antes, deixar um apelo aos que não se encaixam em nenhuma das secções, sucumbindo ao silêncio.

Falem. Ergam-se acima daqueles que estão demasiado vinculados a outros compromissos para fazer jus ao termo. Se não conseguimos mudar os nossos representantes, pelo menos não esqueçamos a possibilidade de nos representarmos a nós próprios. Fartos de ouvir sempre os mesmos interlocutores, quais estrelas protagonistas de presença compulsiva? Então informem-se, reflictam e ultrapassem o estigma de que estão lá para aplaudir até terem um cargo. Confirmo Sartre, para o qual a existência precede a essência. Mas aqui, a voz tem de preceder o poder.

Sem esta mudança, confesso o meu desinteresse futuro por este “órgão deliberativo máximo da AAC no qual podem participar todos os Estudantes da Universidade de Coimbra”.

domingo, 21 de novembro de 2010

Que futuro?

Partilho da visão do leitor “paulo” de que existe Académica pré e pós partidarização.

É certo - e que fique aqui bem esclarecido para todos os meninos a quem faz comichão ouvir que há mais um nome na corrida - que a campanha "Mafalda p'ra DG" é paródia e pura ficção, mas não deixa de ser exemplo de insatisfação pelo rumo que a esse órgão e a Académica têm tomado.

Essa campanha reflete o exemplo das pessoas que deveriam, de facto, representar os estudantes e uma instituição como a AAC.  Alguém incorruptível, com valores, inteligente e quem não se deixa influenciar pelas pressões políticas.

Todos têm noção de que esta "linhagem" (brilhantemente parodiada no blog caciqueaac) que vem conquistando eleições não é, de todo, benéfica para a saúde da AAC. No dia-a-dia houve-se falar na descrença, na corrupção, no trampolim...
Mas em Magna, os estudantes indignam-se por se querer limitar o financiamento das campanhas e acham uma ofensa à sua inteligência. Chegam ao ridículo de fazer chumbar a moção de canetas e isqueiros no ar.

Quando chega a hora de votar, verdade seja dita, a maioria vota porque lhe tiraram um fotografia para aparecer num qualquer organigrama, porque um amigo seu lhe pediu ou porque até reconhece a competência de determinada pessoa da lista (e já estou a excluir isqueiros e canetas para não ferir susceptibilidades). Mas esquecem-se que estão, mais uma vez, a votar numa lista que teve um alto (altíssimo) financiamento partidário (não, não é do próprio bolso) e que durante o seu mandato andará sempre entalada no jogo entre os interesses dos estudantes e os interesses do partido que a financiou.

Ainda existem os incorruptíveis, mas esses recusam-se a participar nesta palhaçada política. Quem devia executar a vontade dos estudantes já não acredita que isso seja possível e já tem estes corpos gerentes em pouca conta.

Na minha opinião algo tem que mudar e passa precisamente pela mentalidade das “ovelhas” da publicação anterior, pela mentalidade dos que se deixam cacicar, sem dúvida, pelo sistema de financiamento das campanhas e claro pela consciência geral de toda uma Academia.

Continuando, na minha ingenuidade, à espera do D.Sebastião para a academia, gostava que a discussão se debruçasse primeiramente sobre a questão do financiamento.

Não haverá maneira de tornar as campanhas mais justas sem prejudicar a chegada de informação aos estudantes?
É claro que sim, até porque as campanhas mais baratas têm sido as que levam mais informação! As outras têm levado muitas fotos, muitos outdoors, muitos slogans, muitas canetas e muitos isqueiros...
Se, em vez do 300€ de plafond na papelaria da AAC, fosse disponibilizado um saldo um pouco maior em numerário que tivesse de ser comprovado com recibos e se limitasse o valor dos donativos, como seriam as campanhas?
Ou será que isto se traduziria simplesmente em benesse para os partidos, que poupariam em campanha e apenas teriam de se preocupar com a gratificação do candidato?

É assunto para refletir num tempo de crise em que o esbanjamento não é muito bem visto.
Por fim, deixo um apelo para que, na altura de votar pensem mesmo muito bem, e caso estejam inclinados para o voto branco ou nulo façam mais um quadrado e votem na "Mafalda".

Mafalda P'ra DG é um mote do descontentamento. ;)

Esta não é uma visão cética. É antes de esperança para que, numa altura em que as Magnas começam a ser mais participadas, as consciências despertem também.

Welcome my son
Welcome to the machine

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Perspectiva de uma céptica


Hoje acordei com um conflito interno. Algo tão simples como a Manifestação realizada ao longo da tarde do dia 17 em Lisboa causou distúrbio tal na minha mente que me vi angustiada perante uma decisão shakespeariana: ir ou não ir.

Ouvi todos os argumentos louváveis de defesa dos nossos colegas que não vão poder continuar no ensino superior, da incoerência de retirar uma benesse crucial às famílias mais carenciadas na economia que atravessamos. No entanto pergunto – quantos manifestantes leram o DL 70/2010? Quantos têm noção da necessidade de ultrapassar a situação financeira em que nos encontramos? Quantos quiseram aproveitar uma boleia até à capital? Quantos têm coragem de reclamar, antes de mais, dos beneficiários de bolsa que dela não necessitam?

Desviando já a possibilidade de ataques nesse sentido, confesso a minha dose de hipocrisia – também eu, com todas as reservas que mantive, participei, motivada em parte pela oportunidade rara de convívio que iria ter com meus colegas do (sobrelotado) curso de Direito. E foi pela sequer existência de tal ideia em mim que me revoltei para comigo mesma.
Defendo que este corte extremo nas bolsas tem de ser contrariado. No entanto, perdemos, enquanto Estudantes Universitários, toda a credibilidade ao exigirmos a “revogação”, sem mais; ao queimarmos uma imagem de Mariano Gago; ao exibirmos um pirete de esponja; ao gastar verbas exorbitantes em publicitação (montante que ainda ninguém me soube definir); ao aproveitar para reclamar de tudo, desde propinas a Bolonha, passando pela falta de casas-de-banho nas residências e até pela necessidade de novos edifícios das Faculdades. Mas principalmente – ao não acreditarmos.

Uma Manifestação devia ser movida por interesses genuínos, tendo na base princípios morais que qualquer jovem consciente e solidário devia ter, crescendo em número pela disseminação de uma crença conjunta e unitária. Ao invés, deparo-me com busca pelo protagonismo, disputas entre Coimbra e Lisboa, Faculdades x e y, Comunistas e Socialistas, necessidades de afirmação e oportunidade para bebedeiras.

Pode parecer que estou a exigir demais de algo tão banal, mas aqui reside o problema. Com tanta crítica revolucionária ao Governo, deixamo-nos levar de ânimo leve num desfile de ovelhas sem saber no que nos estamos a meter e sem sentir aquilo por que gritamos. Em boa verdade, vibrámos muito mais ao entoar músicas estudantis no autocarro. E se digo “nós” é porque pela democracia estamos todos vinculados ao que passa com a nossa imagem. Em épocas já mais remotas sei que era possível a veracidade que reclamo. Se agora a encaro como utópica é para não cair na ingenuidade de não ver as mudanças negativas da nossa época. Este rebanho precisava de uma boa dose de reflexão. Deve ser da falta de boa música que já ninguém fica inspirado.

A decisão que acabei por tomar abalou a credibilidade das minhas críticas. Por outro lado, deu-me uma perspectiva interna que me permite fundamentar muitas das minhas descrenças, dando-me ainda uma experiência nova e momentos agradáveis. Toda a introspecção do mundo merece descanso. Então dormirei de consciência limpa pelo sofrimento que todas estas dúvidas me causaram, pelo reforçar das minhas convicções e pelo bitaite que aqui deixo.

Termino este post inaugural com o desejo que o decreto-lei seja revisto, que ninguém tenha de sair da Universidade e que esta fase de banalização desvalorizadora dos movimentos estudantis seja transitória, numa esperança a longo prazo.