terça-feira, 26 de abril de 2011

Sobre a Liberdade

Este dia que agora termina não pode deixar de representar, para mim, um dia de balanço.

Talvez porque se tenha vindo a assistir ao multiplicar (talvez alarmante) de vozes da minha idade a desejarem que não tivesse havido Abril, atribuindo as "culpas" do estado da Nação à Revolução dos Cravos. A isto juntou-se, recentemente, o desconforto criado pelas declarações de Otelo Saraiva de Carvalho.

Parece-me que não houve um 25 de Abril, mas sim vários. Acredito, com efeito, na existência de uma série de vontades e desejos absolutamente distintos (às vezes, até, antagónicos) na génese da Revolução, unidos por um denominador comum, e por isso é que esta foi expressão da vontade de um povo e não propriedade intelectual de um conjunto restrito de indivíduos, sem que isso retire qualquer mérito às individualidades envolvidas no processo revolucionário.

Parece-me, também, que não devíamos dizer que Abril foi, mas antes que Abril tem sido. Porque Abril parece-me algo de inacabado, em permanente construção, em que cada dia é mais uma oportunidade para o efectivar. E, devemos dizê-lo, poder criticar abertamente em praça pública a Revolução dos Cravos é já estar em pleno exercício dessa prerrogativa fundamental que essa mesma Revolução (também) visou assegurar: a Liberdade, em todas as formas e sentidos.

O problema para mim não reside nem na Democracia, nem na Política, nem na Liberdade: reside nos Homens, nas mentalidades. Sempre soubemos que este não seria um caminho fácil, mas só depende de nós cumprir esse destino que quisemos traçar de há 37 anos para cá.

Não nos esqueçamos que ainda hoje a Liberdade e a Autodeterminação são um privilégio de alguns e não um direito inalienável de todos. E como é bom gozar desse bem tão raro.