segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A Política Morreu

Ou, pelo menos, está em coma profundo.
Quantos de nós pensaremos no que a política é verdadeiramente antes de falarmos dela? Quantos percebem mesmo o que é a política? E porque é que quando se fala em política é sempre em termos pejorativo?

Na verdade já poucos fazem política, poucos falam de política e poucos sabem sequer o que é a política, não se contendo no entanto em usar e abusar da palavra.
Se começarmos pela etimologia da palavra (e nem precisamos de ir muito mais longe) vemos que política se refere ao assuntos públicos, ao (ex-)chavão da política como serviço. No entanto pouco daquilo a que agora se chama política é público ou muito menos serviço. Cada vez mais a política tem emprestado o nome à politiquice que, apesar de ir disfarçando, não está cá para cumprir o objetivo da política, servir.

Quais são então as diferenças entre estas duas parentes por afinidade? Nas duas há posições de poder, nas duas há disputa pelas posições de poder, nas duas há certas ações praticadas em nome do bem comum. O que as diferencia é que numa se disputam os cargos de poder para se poder realizar o bem comum, ao passo que na outra se disputa o poder pelo poder e vai-se praticando algum bem para que se possa continuar a aceder ao poder.
                Ou seja, é a posição do bem comum como verdadeiro fim ou como meio de acesso ao poder que distingue a política da politiquice.
                Pessoalmente vejo a política como uma maneira de fazer as pessoas felizes, melhorando e criando condições e oportunidades para a realização do seu projeto de vida.

                Porque é, então,  que uma aguarda a eutanásia enquanto que a outra vai expandindo o seu reinado? Poderíamos dizer que é porque a política se contenta em andar nalgumas bocas e nalguns blogues, mas a verdade é que falta quem pegue na política.
                Sim, faltam-nos políticos.
             Numa concepção pessoal, penso que um político não deve carecer de cabeça, coração e coragem, mas infelizmente quem lida hoje com a “política”, normalmente só tem um má conjugação de duas das características.
                Temos muitos técnicos, muitos táticos, muitos marketeers, empreendedores, etc., mas há sempre um ingrediente em falta e deve-se, na minha opinião, à falta de ingenuidade que afeta a nossa sociedade.
                Nas palavras de Almada Negreiros “A ingenuidade é o legítimo segredo de cada qual, é a sua verdadeira idade, é o seu próprio sentimento livre, é a alma do nosso corpo, é a própria luz de toda a nossa resistência moral” e a sua perda é a abertura do caminho para a politiquice, a corrupção e a interminável luta do poder pelo poder.
               
Não se pede que sejam idiotas mas que não deixem morrer a última réstia de ingenuidade que ainda possam ter. A coragem e o coração, sozinhos, ainda podem fazer bons políticos.