terça-feira, 14 de dezembro de 2010

UC – A NOSSA UNIVERSIDADE SEMPRE (e DA UNESCO AMANHÃ)

Boas novas vos trazemos, hoje, incautos transeuntes que calcorreiam as ruas da Alta de Coimbra, desde o D. Dinis ao Pátio da Universidade. As dúvidas que vos assaltam o espírito quando vêem as requalificações (vamos pelo eufemismo) presentes um pouco por todo esse percurso têm respostas, fundamentos e até fins, avançando já, louváveis.

Nova cara ganhou a Torre da Universidade, qual pilling ou esticar de peles; as Escadas de Minerva, tamanhos barulhos, polimentos e demais processos (confesso a minha ignorância no plano da requalificação) que concretizaram dentre em breve um embelezamento ímpar; a calçada tradicional portuguesa junto à FMUC e departamento de Química e Física, que tem vindo a ser levantada; e por fim, aquela que mais vezes me tem tirado o sono (não tem nada, estou a gozar) o Pátio da Universidade. Enfim um avolumar de empreitadas que esperemos não darem em trapalhadas.

Estimados e assíduos amigos tudo isto tem uma razão de ser. A reitoria e o Governo apresentaram no pretérito dia 15 de Novembro a Candidatura da Universidade de Coimbra a Património da Humanidade da UNESCO. Antes de mais, uma correcção ao meu texto. Não foi da reitoria ou do Governo, mas sim de todos nós: não somos todos parte desta Universidade? Alunos e antigos alunos, professores e ex-professores, auxiliares e ex-auxiliares, conimbricenses e demais portugueses?

Somos todos a Universidade!

Narrativa ímpar e indubitavelmente grandiosa. D. Dinis em 1290 com a bênção papal de Nicolau IV inaugura o nosso percurso. Artes, Direito Canónico, Direito Civil (Leis) e Medicina figuraram como os Estudos Gerais (meninos de Direitos e de APP sabem porque se chamam “Gerais” ao “quadrado” onde estão as nossas salas de aulas? Aqui têm a resposta); depois de viagens múltiplas entre Lisboa e Coimbra, D. João III já em 1537, instala a UC definitivamente em Coimbra para não mais voltar a Lisboa; D. José I e a Reforma Pombalina de 1772; em 1836 a Fusão da Faculdade de Leis e Cânones, dando origem à Faculdade de Direito; e até aos nossos dias, com todas as peripécias inarráveis agora.

Pronto, ok! Muitos reis, reitores, professores, alunos construíram esta história e chegados aqui a UNESCO olha para toda esta súmula, olha a beleza indubitável de todo o edifício universitário, diz “sim” e está feito. Não!

Têm-se por ideia que a história são coisas do passado, que não podemos esquecer e até devemos valorizar. Concordo, mas mais é necessário. Esta candidatura e esta aventura que vamos percorrer não se faz só à custa do pretérito… é sine qua non que o presente esteja do nosso lado. É preciso que corramos juntos, que lutemos juntos e que todos tenhamos orgulho em defender aquilo que é a nossa alma, a nossa história e o nosso património. Se estudamos, se ensinamos, se trabalhamos ou se já fizemos tudo isto, herdámos no nosso âmago a coragem, a energia, a fantasia que é intrínseca a nunca deixar de viver, de sonhar.

É cada um que faz a Universidade. É cada um que pode mostrar o que é a Universidade. Somos todos os herdeiros desta magnífica instituição. Somos todos que devemos defender esta grande viagem além fronteiras, pelo mundo fora. Vamos fazer da UC para SEMPRE a NOSSA UNIVERSIDADE, mas vamos igualmente deixar que a UC seja um bocadinho da UNESCO e do MUNDO!


3 comentários:

  1. Concordo plenamente com a tua visão! Parece-me, ainda assim, fundamental que a Universidade de Coimbra e, em especial, a Faculdade de Direito, se coloque não apenas no papel de pólo de conhecimento exclusivamente destinado à formação de activos, mas participe proactivamente na sociedade em que se insere e da qual e pela qual também é responsável.

    Não basta, a meu ver, assegurar a melhor formação: é importante(e não é, de forma alguma, inédito) que o espectro da UC (e da FDUC) se projecte no acesso ao mercado de trabalho, no processo político, na construção de um estado social em devir permanente.

    Porque não? Parece-me que, só facilitando o acesso ao mercado de trabalho(criando efectivamente aquilo que se designa por "activos") para quem se forme em Coimbra, só tendo uma voz activa e só colaborando no locupletamento cultural da cidade, para além, naturalmente, de uma aposta (em definitivo) na qualidade de ensino, se conseguirá voltar a atrair os melhores alunos deste país para a Universidade pública que sempre foi, por direito próprio, a melhor do país.

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  2. Eu sou de uma aldeia perto de Coimbra e sempre ouvi que Coimbra era a cidade dos estudantes (e ouvia pouco mais dela). Hoje que ando mais pela cidade confirmo esta ideia.

    Ainda que possa estar a ser um pouco injusto, parece-me que não só a universidade, mas inclusive a cidade, ficaram à sombra da bananeira. A fama, o prestígio, a influência estudantil, etc., etc. encheram-nos de uma inércia tal que vemos a nossa cidade um pouco parada no tempo (ah é verdade em termos de shoppings não, ainda a semana passada abriu um novo. ainda que eu vejo mais vantagens nisto do que desvantagens).

    E um dos factores é realmente este mercado laboral que tende (aparentemente e de uma forma empírica) a não crescer. Falta alma ( à cidade, à universidade) no que concerne ao futuro daqueles milhares que escolheram Coimbra para estudar e demais que desejem um amanhã nesta.

    Não sei se por inicitiva da UC ou da Cidade (talvez das duas em unissono) é preciso mais, muito mais. E o que vejo é algum afastamento da própria UC à cidade, principalmente na área das letras e humanidades, porque os cursos cientificos até têm conseguido evoluir e já temos alguns projectos inovadores e cientificos de sucesso.

    Mas para encontrar mecanismos de maior acesso ao emprego é preciso que a cidade reaja. Infelizmente, não vemos grandes dinâmicas!

    Não tenho soluções milagrosas. Cabe, efectivamente, ao espírito de cada empresário, trabalhador, estudante, instituições, associações e fundações (de toda a ordem) o fomento (lá virá o Ricardo criticar, e bem, este fantástico verbo) dessa mesma realidade.

    Construir activos e dar-lhe maiores perspectivas (não empregos, não é essa a função da UC) de um futuro profissional!

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  3. Tenho antes de mais nada de dar os parabéns ao meu colega José Simões, que escreveu um texto muito bem redigido (demonstrando também um gosto muito grande pela cadeira de História do Direito Português ), e mostrar também a minha concordância com o que foi aqui escrito ! Pessoalmente não acredito muito que a nossa velhinha universidade consiga vir a ser considerada património mundial pela Unesco , o trabalho a ser feito é muito maior do que aquele que até agora foi realizado . É urgente "educar" , muitos dos estudantes desta universidade , para entenderem de uma vez por todas que vandalizando a alta e indo contra todas as tradições que nos rodeiam , em nada vão ajudar a que esse prémio seja atribuido . Quanto ao resto José , estou inteiramente de acordo com a tua visão actual da cidade de Coimbra , obras como o metro mondego , acredito que vão ajudar a dar um pequeno empurrão que esta cidade tanto precisa , nem que seja dando vida a zonas mais antigas da cidade .

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